PsicodiafanógenosEsforços experimentais fúteis na tentativa de contornar o Princípio da Incerteza |
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"Life is what happens while you're busy making other plans." John Lennon | ||
sábado, fevereiro 21, 2004
Inferno Astral - Dia 1
Até agora, sem grandes atropelos. O único evento digno de nota foi a auto-destruição de um chaveiro que veio junto com a chave do meu carro. Poderia ser um sinal? Nahh... São Paulo 3 x 0 Atlético Sorocaba Mais uma *emocionante* partida válida pelo campeonato paulista que tive o privilégio de ver ao vivo, no Morumbi. Praticamente um jogo-treino, acabou marcado pela presença, duas poltronas atrás de mim, de um torcedor atípico. Após anos de comparecimento a eventos prestigiados por loucos, psicopatas e simpatizantes, não tardei a reconhecê-lo como um típico "Seu-Madruga-Que-Grita". Como todo bom torcedor sabe, gritar no estádio é uma nobre forma de arte. Não se pode gritar em qualquer momento, ou qualquer coisa --é preciso ter aquela intuição que aponta o que deve ser dito e quando. Infelizmente, os "Seus-Madrugas-Que-Gritam" parecem ter uma anomalia congênita que os impede de adquirir essa habilidade. Gritam, então, aleatoriamente, sem nem mesmo conseguir estabelecer uma relação lógica entre o que está acontecendo em campo e o que está sendo esbravejado. O elemento em questão não parou de gritar, durante o jogo inteiro, frases como "EEESTIIIICAAAAA!!!!", "ISSOOO ÉÉÉ QUE ÉÉÉ BOONIIITOOO!!!!" e "VAAAI DEESCOONTAAAR DOOO SEEEU SALÁÁÁRIO!!!". Após uns 15 minutos, num misto de humor involuntário e irritação, eu e meu irmão começamos a soltar frases como "ESTICA A LÍNGUA E DOBRA!!!", ou "ESTICA O SACO!!!", oi ainda "ESTICA A PACIÊNCIA!!!". E é desnecessário dizer que trocamos de lugar, fugindo do exótico torcedor, assim que acabou o primeiro tempo. Ainda assim, de longe, chegamos a ouvir alguns "ESTIIICAAAA!!!" durante a etapa final. Quando tem de ser... A história mais curiosa desta ida ao estádio, entretanto, aconteceu antes de o jogo começar. Para comprar os ingressos, eu e meu irmão tivemos de entrar numa enorme e desorganizada fila da bilheteria para adquirir meia-entrada (a que só ele tem direito). Chegando a nossa vez, compramos. A mulher da bilheteria levou duas horas para anotar o número da carteira de estudante do meu irmão e, quando entregou os ingressos, acabou devolvendo os 30 reais que havíamos usado para pagá-los. Meu irmão hesitou por um décimo de segundo, mas fez a coisa certa. "Não, o dinheiro é seu", ele disse, fazendo as três notas voltarem às mãos da mulher. Muito bem. Enquanto nos encaminhávamos para a arquibancada, esperando já passar os próximos 90 minutos sob uma antipática garoa, comentávamos que poderíamos muito bem ter ficado com o dinheiro, caso nos faltasse honestidade. E eis que avistamos, em frente ao portão principal, meu padrinho, que por um acaso (ah-han!) é fisiologista do São Paulo Futebol Clube. Fiquei feliz em vê-lo, trocamos algumas figurinhas, enquanto ele esperava o filho, que voltaria com os ingressos deles. Nós contamos que estávamos indo para a arquibancada, tomar chuva, e ele então disse, "Não, peraí, façam o seguinte... peguem esses nossos ingressos, a gente entra aqui por dentro, pelo portão principal, e depois nos encontramos lá na cadeira cativa". Com novos ingressos para um setor coberto do estádio, tratamos de revender os que havíamos comprado antes a um senhor que estava indo com seu filhinho ao estádio, reavendo nossos 30 reais. Encurtando uma longa história, o mundo conspirou, por duas vezes, em menos de cinco minutos, para que assistíssemos ao jogo de graça. Está provado: o que é do homem, de fato, o bicho não come. |