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"Life is what happens while you're busy making other plans."
John Lennon



terça-feira, janeiro 27, 2004

 
Andarilho paulistano

Em seu último suspiro, meu velho carro quis me impor um insulto final --obrigar-me a gastar o equivalente a dez dias de gasolina em um único dia, em táxi. Resignei-me na ida ao trabalho, em razão da necessidade de cumprir horários, mas não fui capaz de aceitar essa mesma situação na volta.

Se os humanos foram capazes de deixar a África e se espalhar pelo mundo caminhando, nada iria me impedir de voltar para casa do mesmo modo. Com toda a nossa tecnologia, às vezes nos esquecemos de que as pernas não foram feitas meramente para permitir a prática de esportes, mas sim para locomoção. Fiz-me, portanto, andarilho e, sem hesitar, decidi percorrer os 12 quilômetros a pé.

A cidade ganha uma nova perspectiva quando se faz uma coisa dessas. Primeiro, ela cresce. Segundo, ela vive e respira. Você passa a perceber as coisas na rua, vê como cada quarteirão está cheio de gente, cada pessoa vivendo sua própria vida, alheia ao que se esconde depois de cada esquina. Alguns passos e se ouve uma música vindo de um bar. Mais alguns e a trilha sonora da vida muda. Sim, o mundo tem sons.

Namorados compartilham guarda-chuvas, espremidos na calçada. Ao caminhar, contam histórias. "Aí ela me disse, 'assim não dá'...", é tudo que você pode ouvir, antes que o casal se perca na distância. Que narrativa estaria emoldurando aquela frase desconexa? Há muitas coisas acontecendo lá fora, enquanto nos preocupamos com a nossa vida. Somente em ocasiões desse tipo, em que a mente se desprende por completo da tarefa a ser realizada, podemos perceber isso.

Alameda Barão de Limeira, Avenida Angélica, Avenida Rebouças, Avenida Eusébio Matoso, Ponte Eusébio Matoso, Avenida Professor Francisco Morato. Num automóvel, elas passam todas despercebidas --quase uma cidade cenográfica. A pé, você passa a conhecer cada metro. A propósito, quem disse que não se pode enfiar o pé na lama na selva cinza de São Paulo? Nada que uma chuvinha não possa resolver, naturalmente...

Saí do trabalho às 22h15. Cheguei em casa às 00h22. Tempo total da prova: 2h06min40s. Confortável velocidade de cruzeiro de 6 km/h. Com direito a cantoria de "Stand by Me", "Anytime at all" e, claro, "Singin' in the Rain" pelo caminho.

E o mais legal é chegar em casa e se sentir quase britânico, de tão excêntrico. "Você é louco", é a tônica da recepção familiar. Sou obrigado a discordar dessa interpretação, entretanto. Não sou louco. Sou apenas um observador, um que não consegue esperar os eventos se desenrolarem diante de meus olhos --o impulso é ir lá fora buscá-los.

Só posso dizer uma coisa: foi divertido.

Mas bem que ter carro para ir trabalhar amanhã não vai cair tão mal...



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